A Moça Tecelã
REUNIÃO DOS PROFESSORES NO DIA 01/07/2012
Pauta circular nº 02/2012
Leitura do texto - A Moça Tecelã
1- Prestação de contas
2- apresentação do assistente
3-apresentação dos ATEs
4-ATE Suzana Caetano passou a fazer parte secretaria
5- outros
Por Marina Colasanti
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando
atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz,
que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da
manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora,
em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a
moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão
mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um
fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva
vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as
folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios
dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo
os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com
cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido.
Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite,
depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranqüila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria
fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se
sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao
lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma
coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe
dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado,
rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de
entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o
chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos
filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha
pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear,
em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E
parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor
de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem
querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em
prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e
portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não
tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para
arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes
acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o
marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de
trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça
dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo
o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o
que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe
pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez
pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia
sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a
longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a
lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a
desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os
jardins. Depois desteceu os criados e o
palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa
pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura,
acordou, e, espantado, olhou em volta.
Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos
sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada
subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma
linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que
a manhã repetiu na linha do horizonte.
Pauta circular nº 02/2012
Leitura do texto - A Moça Tecelã
1- Prestação de contas
2- apresentação do assistente
3-apresentação dos ATEs
4-ATE Suzana Caetano passou a fazer parte secretaria
5- outros
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