segunda-feira, 16 de maio de 2011

Homenagem ao Patrono da nossa escola "EMEF DIAS GOMES"

O BEM-AMADO


Autoria: Dias Gomes

Direção: Régis Cardoso, Jardel Mello, Yves Hublet, Mariano Gatti e Oswaldo Loureiro

Período de exibição: 22/04/1980-09/11/1984

Horário: terças, às 22h15

Número de episódios: 220

Trama/ Personagens:

- O seriado O Bem-Amado era baseado na novela homônima, escrita por Dias Gomes para a TV Globo em 1973. Na novela, o autor concentrava em Sucupira, pequena cidade no interior da Bahia, personagens que representavam tendências, comportamentos e características comuns de tipos populares de todo o Brasil. Dias Gomes afirmava que O Bem-Amado não era uma continuação da novela, embora contasse com alguns dos seus principais personagens.

- Para escolher, entre os 40 personagens da novela, quais permaneceriam no seriado O Bem-Amado, Dias Gomes levou em consideração os que seriam absolutamente essenciais para Sucupira: o prefeito, o padre, o dono de jornal, o delegado, os líderes da oposição, os líderes da maioria, Dirceu Borboleta, as irmãs Cajazeiras e Zeca Diabo.

- Zilka Sallaberry, que na novela O Bem-Amado interpretou a delegada Donana Medrado, não pôde retomar seu papel no seriado. Na época, a atriz já era a Dona Benta, no Sítio do Picapau Amarelo (1977). Sucupira ganhou, então, uma nova delegada: Chica Bandeira, papel entregue à Yara Cortez. Para substituir Dulcinéia – vivida na novela por Dorinha Duval – Dias Gomes criou uma nova Cajazeira, Zuzinha, vivida pela atriz Kleber Macedo. Odorico Paraguaçu também ganhou uma terceira filha, Bebel (Ângela Leal), e uma esposa, Conchita (Suely Franco).

- No primeiro episódio, o demagogo e idiossincrático prefeito Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo), que no último capítulo da novela havia sido morto com um tiro do cangaceiro Zeca Diabo (Lima Duarte), ressuscita e reassume seu posto na prefeitura de Sucupira. Seu grande projeto “necrofílico” – a inauguração do cemitério de Sucupira –persiste, já que o único enterro realizado no cemitério havia sido o dele, ironicamente anulado com a sua ressurreição.

- O segundo episódio mostra o julgamento de Dirceu Borboleta (Emiliano Queiroz), o tímido ex-secretário de Odorico, preso por ter assassinado sua mulher, ao descobrir que ela o traíra com o prefeito. Por influência de Odorico, no entanto, Dirceu é libertado e volta a trabalhar para o ex-patrão.

- No episódio seguinte, Anistia para Zeca Diabo, o bandido de bom coração é perdoado por ter atirado em Odorico e retorna à Sucupira para ser seu segurança pessoal.

- A partir do quarto episódio, Dias Gomes passou a se basear em temas da atualidade. Com a abertura do regime militar, o autor podia, enfim, ser mais claro e objetivo suas críticas perspicazes e bem-humoradas. Abordou temas considerados difíceis, como no episódio A Inflação Está Morta! Viva a Inflação!, no qual Odorico Paraguaçu, escoltado por Zeca Diabo, ia à Brasília para conversar com o ministro do Planejamento sobre seu revolucionário plano para combater a inflação: aumentá-la para 300%. O prefeito e o guarda-costas acabam presos ao tentar entrar à força na sede da Câmara dos Deputados. O mesmo episódio tratou do tráfico de drogas. Odorico recebia a denúncia de que uma rede de “muambistas, cocainistas e maconhistas” estaria instalada em Sucupira. O prefeito promove, então, uma operação “desentoxicante e desintoxicológica” na cidade, mas só encontra açúcar no carregamento suspeito.

- Outro episódio, A Manifestança Beijoquista, foi inspirado em uma notícia de jornal: em uma cidade do interior, um juiz teria proibido “o beijo libidinoso e obsceno, aquele em que as mucosas labiais se unem em expansão insofismável de sensualidade”. Em Sucupira, Odorico impõe a mesma lei e, sob protestos generalizados, tenta promover uma limpeza de casais de namorados.

- Eventualmente, Odorico Paraguaçu, alegando intensa atividade política, se aproveitava do dinheiro da prefeitura para visitar outras regiões brasileiras. Em algumas ocasiões viajava para o exterior. O Bem-Amado teve episódios passados em Paris, onde Odorico e Dirceu Borboleta levaram flores ao túmulo de Napoleão Bonaparte, e em Roma, onde jogaram pedras dentro do Vesúvio. Foi gravado um episódio também em Washington, chamado I Love Sucupira. O prefeito concluía que era uma tolice que, no auge da Guerra Fria, a sede da ONU continuasse sendo Nova York, ao alcance de bombas atômicas e mísseis. Ele decide, então, ir até os Estados Unidos propor ao presidente norte-americano que Sucupira se tornasse a nova sede das Nações Unidas.

- Em novembro de 1983, com o falecimento da sua esposa, Janete Clair, Dias Gomes assumiu a supervisão da novela Eu Prometo (1983), que a autora deixara inacabada. O Bem-Amado teve, então, que ser reestruturado para que o autor suportasse a carga de trabalho. Em 1984, passou a ser exibido mensalmente. Nesse ano, foi ao ar o último episódio, E Chegamos aos Finalmentes, dirigido por Oswaldo Loureiro.

- No último episódio, exibido quando o fato político de maior destaque eram as eleições do novo presidente da República, por votação do Colégio Eleitoral, um candidato à presidência envia vários presentes para os habitantes de Sucupira. Zeca Diabo ganha um cavalo árabe, as irmãs Cajazeiras recebem máquinas de costura novas; a filha e a esposa de Odorico – o prefeito se casara no episódio As Bodas do Coronel – são presenteadas com colares de pérolas e um automóvel. O presente mais inusitado, no entanto, é endereçado ao prefeito de Sucupira: duas ambulâncias para a prefeitura e um cadáver fresquinho com o qual ele poderá, enfim, inaugurar o cemitério da cidade.

- Foram exibidos entre outros episódios de O Bem-Amado: A Resurreição de Odorico Paraguaçu; O Julgamento de Dirceu Borboleta; Anistia para Zeca Diabo; Inferno na Sacristia; O Dia em que Waldick Soriano Foi à Sucupira; A Curra; Grande Motel Sonho de Amor; O Mensageiro de Júpiter; A Petropira; Mão Preta e o Elefante Branco; Bola pra Frente que Odorico É Presidente; O Caçador de Tiranos; A Greve Piscatória; O Protético; Miss Sucupira, Quiçá Miss Brasil; O Bastião da Liberdade; O Milionário da Loteca; O Dia em que Sucupira Foi Capital; A Inflação Está Morta! Viva a Inflação!; O Último Cangaceiro; O Larapista Desroupante; A Greve de Sexo; Quem Matou Epaminondas?; O Contraventista Zoológico; Mulheres, à Luta!; O Lobisomem; Natal em Sucupira; Superemanuelle; O Dia em que a Terra Tremeu em Sucupira; A Guerra dos Fardões; O Valentoso Moronauta; O Povo de Deus e o Milagre dos Coronéis; A Manifestança Beijoquista; O Capeta em Sucupira; O Leão Está Solto; O Atentado Pirotécnico; A Grande Jecana; A Grande Entrevista; Dorotéia Vai à Luta; Como Se Faz um Candidato; Um Defunto à Baiana; A Ira de Zeca Diabo; O Renuncista que Deu Certo; O Maucaratista Cibernético; A Ciclovia; A Farreação Libidinante; O Desligamento Televisivo; O Cangaceiro de Deus; O Casamento do Século; O Barão das Comendas; O Defunto Voluntário; I Love Sucupira; Só Cai Quem Monta; Operação Zoológica; Odorico de Saias; Zeca Diabo; Um Jegue no Vaticano; O Tio do Dr. Sócrates; A Piração de Juju; O Finado que o Vento Levou; Rebelião no Presídio; O Bode Expiatório; Político sem Povo, Galinha sem Ovo; Dirceu e a Escrivinhadora Proibida; Jogo de Cintura; Contatos de Quarto Grau em Sucupira; A Guerra das Malvadas; A Grande Futebolança; O Macho Desnudo; Medrados e Cajazeiras; O Bebê da Discórdia; A Corrida do Ouro; O Defunto Biônico; O Chafarótico; Hoje Tem Marmelada; O Último Teretetê; Um Analista em Sucupira; Os Filhos de Odorico; O Bebê de Proveta; Sucupira Vai às Urnas [em duas partes]; Odorico na Cabeça; As Bodas do Coronel; Sucupira Vai ao Fundo; A Reabertura Jogatícia; O Presidenciável; Aí, Sucupira Declarou Guerra à Itália; O Blefe do Século; Odorico Sequestrado; A Guerra dos Santos; Sucupira Vai à Luta; O Gemellágio; Secabrás; A Noiva de Zeca Diabo; A Gripe Soluçante; A Bichoteca; e E Chegamos aos Finalmentes.



Produção:

- Para o diretor Régis Cardoso, a diferença básica entre a novela e o seriado era que o segundo permitia a crítica de temas da atualidade, o que não é tão fácil em uma novela que tem um enredo muito longo.

- Em termos de direção, o seriado tinha uma abordagem mais cinematográfica, com um uso mais maleável da câmera.

- Antes do início das gravações, o elenco e Régis Cardoso assistiram juntos a alguns capítulos da novela para entrarem novamente em contato com o universo de Sucupira e os personagens.



Curiosidades:

- O Bem-Amado sofreu bastante com a intervenção dos censores. Em 1982, a Divisão de Censura da Polícia Federal vetou a seguinte frase de Odorico Paraguaçu: “Não tivesse eu jurado fazer de Sucupira uma democracia, mandava botar todos eles num pacote e jogar no mar”.

- Em agosto de 1981, ao deixar o cargo de Chefe da Casa Civil, o general Golbery do Couto e Silva, braço-direito do presidente Ernesto Geisel, teria dito aos repórteres: “Não me perguntem nada. Acabo de deixar Sucupira”.

- As gravações do episódio I Love Sucupira foram feitas em Washington. Emiliano Queiroz se lembra de uma cena em que ficava correndo para cima e para baixo com um coco nas mãos, deixando desconcertados os guardas que vigiavam a Casa Branca.

- O Bem-Amado foi exibido em diversos países, como Angola, Bolívia, Chile, Espanha e Guatemala.



Trilha sonora:

- A trilha sonora de O Bem-Amado trazia 13 faixas com versões da banda Lira Sucupirana – a bandinha de coreto que atuava na novela – sob a batuta do maestro Zé Preá, para músicas como Tá com Medo, Tabaréu (Melô da Pipa), dos Super Bacanas; Festa do Interior – de Abel Silva e Moraes Moreira; e Bate Coração, de Zé Ramalho; além de uma gravação do Coral Som Livre para O Bem-Amado, de Toquinho e Vinícius.



[Fontes: Depoimentos cedidos ao Memória Globo: Emiliano Queiroz (15/12/2000), Ida Gomes (23/04/2001) e Lima Duarte (22/05/2001); Boletim de Programação da Rede Globo 372, 379, 381, 417, 421, 431-A; 458, 524, 570, 617; “A TV no Conselho Federal de Censura”, In: Jornal da Tarde, 19/02/1982; ANGEL, Hildegard. “O Bem-Amado em Lisboa”, O Globo In: 15/05/1983; MEMÓRIA GLOBO. Dicionário de programas da TV Globo Vol 1: dramaturgia e entretenimento, Jorge Zahar Ed, Rio de Janeiro, 2003; SCHULKE, Evelyn. “Dias Gomes, lutando contra a censura. Com bom humor” In: Jornal da Tarde, 22/06/1981; www.imdb.com; www.teledramaturgia.com.br]



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